Medos e Incertezas

Existe medo aqui e mais além?
Já aconteceu de querer algo, pensar de mais e não fazer coisa alguma.
E se as falhas são mais do que despreparo, falta de empenho e de perseverança?

Ponho aqui a minha visão, assevero a falha humana em não acreditar em si mesmo, nos outros... na própria vida.
Existe a revolta nos adolescentes e adultos que repudiam a vida da forma como ela é, em que pessoas pobres, sem instrução e sem expectativas são tratadas como bichos. Na verdade estes acabam o sendo, pois sem outra forma de subsistência, agem instintivamente. E então aqui estamos, diante de todas estas coisas horríveis que acontecem em nossa vida. Acontecimentos estes que ferem a nossa alma, destoam as nossas convicções, desfocam nossos sentidos e finalmente, entravam nossas ações e se resumem em algo tão ruim quanto a desistência dos sonhos, que é a insurgência de não lutar.

Em momentos em que tudo parece impossível de acontecer, em fases que não temos o amor que desejamos, em que o vazio enterra nos mais fundo a cada dia, me parece que nada faz sentido e sinto que realmente a vida brinca e se diverte conosco. Ela acaba celebrando os conflitos, jogando com as emoções e penalizando os derrotados.

Penso que o que existe são leis universais, muito fortes e que nem sempre podem ser reconhecidas por nossos olhos, muito menos captadas pelo nosso ínfimo saber. Nem sempre alguém poderá ter acesso a este enorme conhecimento, o qual é resguardado em nosso íntimo.

Cada um guarda em si um tesouro, sejam virtudes distintas e complexas. A partir deste preceito encontramos o nosso caminho, mas nem sempre sabemos por onde inicia-se tudo, pois não há placas que o indiquem ou alguém que nos ensine por onde trilhar os nossos sonhos e nossas metas.

É muito fácil festejar as tristezas da vida, viver em um mundo depressivo, preso num quarto, lamentando nossas desilusões, as desgraças que machucam o nosso espírito. É conveniente reclamar do passado, criticar o presente e não esperar nada do futuro. Pior ainda é chegar a uma etapa da vida e inesperadamente despertar. Você acorda e verifica que não é a vida que lhe prejudica, pois ela apenas é um desenho que se traça sem poder usar uma borracha. Quanto mais agimos inconseqüentemente, mais borrões ela terá, mais complexa ela se tornará e, por mais projetada que ela seja, por mais minucioso e rico em detalhes for o nosso plano, verificamos que não vivemos sozinhos e que são raras as vezes em que não dependeremos de outros, cujos pensamentos podem, infelizmente ou felizmente, ir de encontro ao que pensamos. As situações também acabam não nos permitindo agir daquela forma específica... Eis então os rabiscos, os borrões... E onde está a borracha?

Na verdade não há um corretor, um apagador ou algo semelhante, mas sim algo atenuante, que eu chamo de tempo... algo que diminui os desgostos, acolhe os erros e ensina que poderíamos ter feito muitas coisas de forma diferente. O tempo ensina que na maioria das vezes perdemos para os nossos medos, para a nossa timidez, para a nossa baixa auto-estima e pela nossa complacência.

O tempo ensina que as nossas contradições nos desorientam e que somos e nos tornamos o que pensamos. Por isso, não culpe a vida por ser um derrotado, um sem amor e um desiludido, pois se tudo isto acontece foi porque lhe faltou forças e vontade, por mais que um pai lhe ignorasse, por mais que a mulher ou homem que você desejou não lhe quisesse, por mais que as oportunidades não fossem muitas.... por mais que a vergonha de ser o que você é lhe impedisse de ser feliz. Raras as vezes as adversidades da vida são as verdadeiras e únicas culpadas do nosso insucesso.

A primeira coisa a se pensar é contra quem deveremos dirigir as nossas forças e saber que o nosso maior inimigo pode ser nós mesmos.

(Álvaro Angheben)